Capítulo Quarenta e Três
furou os dois olhos
só pra ver
o que tinha dentro...
(experimentações literárias, filosofia barata, idéias estranhas e cultura inútil)
Pulou por cima de uma andorinha, criou asas e fez que não viu. Sonhou que era gente normal e que ia trabalhar, acordou assustado com o próprio umbigo. Fez sentido quando tinha um gato na mesa, à milanesa, que beleza! Veja você, que coisa, eu rimo e não tenho vergonha... Já ele, colocou o casaco acústico e nem deu tchau. Parou antes que pudesse pensar pra onde ia. Viu que era melhor assim. Do outro lado da cidade, alguém igual a ele ia ao seu encontro, mas pro lado errado.
Ele saiu correndo no meio da chuva tentando ordenar os pensamentos que se acumulavam, o deixando confuso. Esbarrou em duas ou três pessoas de guarda-chuva e quase chutou um cachorro magro que procurava uma sombra pra se abrigar da água que caía do céu.
Ricardo era um mulherengo, Ana era ciumenta.
Maria da Felicidade estava lavando a roupa quando ouve alguém bater palmas no portão da sua casa. Enxuga as mãos e vai atender quem quer que seja.
O ferreiro chega em casa com muita fome depois de um dia de trabalho:
-Vem cá se for homem!
Amarelinho era um passarinho. Um pássaro canoro qualquer, azul, mas com uma manchinha amarela no peito, razão do seu nome. Ainda pequeno, Amarelinho foi achado machucado e caído no meio de uma rua de uma cidadezinha interiorana e encantou o seu Adamastor, carpinteiro de profissão, com o piado agudo. Seu Adamastor cuidou dele e o colocou numa velha gaiola de madeira e lá Amarelinho cresceu, cantando cada vez mais bonito. Amarelinho não conhecia outra vida que não aquela, cantando e bebendo água fresca todo dia.
-Vó, abaixa essa música que eu quero dormir...
-Alô?
Desde a escola ele tinha a irritante mania de ler em voz alta. Foi expulso pelo menos umas três vezes da biblioteca por causa disso. E duas vezes do cinema, antes de desistir de assistir a filmes legendados.