sábado, 4 de março de 2006

Capítulo Quarenta e Sete - Recapitulando

Capitu foi raptada pelo Capitão e levada para a nau capitânia. Logo Capitu, que sempre foi tão recatada... O Capitão talvez quisesse pecar com Capitu. Capitu dizia que só iria para a cama com o Capitão se eles se casassem (por que se ele não era o par perfeito, ao menos era rico). O Capitão aceitou a proposta, mas Capitu não sabia que o Capitão era um canalha e que daria um jeito de acabar com Capitu depois de conseguir o que queria.
Um dos capangas do Capitão, ficou com pena da pobrezinha e na noite anterior ao casamento contou os detalhes do conluio que o Capitão estava conspirando com os seus. Capitu, mais do que com pressa, deu um jeito de escapar. Construi uma corda com lençóis e caiu dentro do mar. E ia o capanga com a donzela.
O Capitão ao saber da traição - do capanga e da mulher que (sorte triste) lhe roubou o coração - mandou catorze homens atrás do casal. Passaram-se quarenta dias e nada de achar. Mal sabiam que os dois - que se amavam como nunca amaram qualquer outro - se escondiam na capital. Mal sabiam os dois - que se satisfaziam em rolarem juntos no carpete - que o Capitão era influente figura na capital.
Em pouco tempo a polícia achou os dois e os levou a julgamento. E o juiz era compadre do Capitão! O malvado Capitão queria a forca, mas o juiz achava isso deveras desumano. Culpados de um crime que nunca cometeram, foram os amantes condenados à guilhotina. Ao fim da tarde, sob a luz crepuscular foi decapitada Capitu e o capanga.
E a nau capitânia partiu contente.

Capítulo Quarenta e Seis - A melhor história que eu já escrevi na minha vida

O Assalto


Um homem encapuzado, empunhando uma arma, entra numa loja gritando:
-Isso é um assalto!
A balconista se vira e olha com desdém a figura magra e histérica:
-Ah, fala sério... Cadê a câmera escondida?
-Que câmera escondida?! Isso aqui não é pegadinha, não!
-Sei...

sexta-feira, 3 de março de 2006

Capítulo Quarenta e Cinco - 1999/2000

-Nossa, o negócio aqui é chique mesmo, né?
-E eu não te falei, menina?
-Mas olha como tem umas mulheres que se vestem mal por aqui...
-Gente rica tem gosto estranho mesmo.
-A dona da festa não devia de deixar entrar gente mal-vestida assim não, fica até feio na foto depois...
-Mas fazer o quê, né?
-É... E diz aí, onde é que foi que você conheceu esse cara?
-Conheci por acaso numa fila de cinema...
-E o cara te deu convites pruma festa dessa?
-Pois é, disse que tem uns conhecidos por aqui.
-Quem diria, hein? Nós duas na virada do milênio numa festa bonita dessas...
-Ô, menina, deixa de ser burra que a virada do milênio é só no ano que vem! Não viu no Fantástico, não?
-Mesmo assim, daqui a pouco é o ano dois mil. Quando eu era pequena achava que quando a gente chegasse no ano dois mil ia ter carro voando por aí, um monte de robô fazendo serviço pesado e pílula pra gente comer e ficar satisfeita...
-E eu sempre achei que o mundo fosse acabar no ano dois mil. E se quer saber, ainda acho.
-Agora você é que tá sendo burra! Não sabe que no Japão já é amanhã e pelo visto não acabou, né?
-E como é que você sabe? Ouviu falar alguma coisa do Japão hoje?
-Não, mas também, eu fiquei o dia inteiro na praia...
-Então, eu acho que o Japão acabou e ninguém sabe ainda...
-Ah, mas se o Japão tivesse acabado você não acha que já ia todo mundo tá sabendo?
-É? E se acabou e ninguém soube? Já que todo mundo morreu quem é que ia contar?
-Mas e não iam ver as explosões?
-E se acabou de um jeito diferente? Mais silencioso..
-Pois se o mundo acabasse agora eu morria feliz, por que pelo menos ia tá no meio de gente rica...
-Mas ia morrer pobre do mesmo jeito.
-Pobre mas feliz.
-Felicidade de pobre dura pouco.
-Se o mundo acabar hoje a felicidade de todo mundo aqui vi durar pouco.
-É verdade...
-E se o mundo acaba quem perde são eles que têm muito, a gente não ia perder nada...
-Então vamos se não a gente vai é perder a contagem regressiva...
-E a comida também...

Capítulo Quarenta e Quatro - Eu, mim e eu mesmo

Eu tô falando comigo
Eu tô falando pra mim mesmo
Eu tô falando sozinho
E já não me dou mais ouvidos

Então calo a boca pra escutar
O que eu tenho pra me falar
E é sempre bobagem
E reclamação
Acho que é por isso
Que ninguém me dá mais atenção

É que hoje me olhei no espelho
E já não era mais o mesmo
Daí eu perguntei sobre as novidades
Eu tava curioso pra saber como era ser eu mesmo
Perguntei a minha idade
E a quantas andava minha popularidade
Perguntei sobre os amigos
E se eu ainda detestava couve-flor

Às vezes até tento me consolar
E dizer que tudo um dia vai melhorar
Mas não agüento mais minhas mentiras
Não agüento meu egocentrismo
Nem a minha voz esganiçada
E me mando ficar quieto
Mas não suporto o silêncio

E digo que vou embora
Que nunca mais quero me ver
Me xingo de idiota
E até ameaço me bater

No fim das contas percebo
Que ninguém ganhou nem perdeu
Nesse eu contra eu