sexta-feira, 3 de março de 2006

Capítulo Quarenta e Cinco - 1999/2000

-Nossa, o negócio aqui é chique mesmo, né?
-E eu não te falei, menina?
-Mas olha como tem umas mulheres que se vestem mal por aqui...
-Gente rica tem gosto estranho mesmo.
-A dona da festa não devia de deixar entrar gente mal-vestida assim não, fica até feio na foto depois...
-Mas fazer o quê, né?
-É... E diz aí, onde é que foi que você conheceu esse cara?
-Conheci por acaso numa fila de cinema...
-E o cara te deu convites pruma festa dessa?
-Pois é, disse que tem uns conhecidos por aqui.
-Quem diria, hein? Nós duas na virada do milênio numa festa bonita dessas...
-Ô, menina, deixa de ser burra que a virada do milênio é só no ano que vem! Não viu no Fantástico, não?
-Mesmo assim, daqui a pouco é o ano dois mil. Quando eu era pequena achava que quando a gente chegasse no ano dois mil ia ter carro voando por aí, um monte de robô fazendo serviço pesado e pílula pra gente comer e ficar satisfeita...
-E eu sempre achei que o mundo fosse acabar no ano dois mil. E se quer saber, ainda acho.
-Agora você é que tá sendo burra! Não sabe que no Japão já é amanhã e pelo visto não acabou, né?
-E como é que você sabe? Ouviu falar alguma coisa do Japão hoje?
-Não, mas também, eu fiquei o dia inteiro na praia...
-Então, eu acho que o Japão acabou e ninguém sabe ainda...
-Ah, mas se o Japão tivesse acabado você não acha que já ia todo mundo tá sabendo?
-É? E se acabou e ninguém soube? Já que todo mundo morreu quem é que ia contar?
-Mas e não iam ver as explosões?
-E se acabou de um jeito diferente? Mais silencioso..
-Pois se o mundo acabasse agora eu morria feliz, por que pelo menos ia tá no meio de gente rica...
-Mas ia morrer pobre do mesmo jeito.
-Pobre mas feliz.
-Felicidade de pobre dura pouco.
-Se o mundo acabar hoje a felicidade de todo mundo aqui vi durar pouco.
-É verdade...
-E se o mundo acaba quem perde são eles que têm muito, a gente não ia perder nada...
-Então vamos se não a gente vai é perder a contagem regressiva...
-E a comida também...