Capítulo sessenta e oito - A história da história de Joana
Joana queria contar uma história. Mas tinha que ser uma história total. Uma história que fosse absolutamente real. Uma história absurda, que envolvesse completamente, que não existisse somente no papel, na cabeça, onde quer que fosse.
E os personagens tinham que ser completos. Deviam amar, odiar, se entediar, deviam comer, beber, respirar. Não podiam ser personagens planos, deviam ser complexos, cheios de dúvidas, contradições, ideologias, idéias e defeitos.
Joana queria contar uma história. E não podia faltar nenhum detalhe, a cor do cabelo de cada um, o ano do carro, a marca da geladeira, a tinta descascando na parede, o número dos telefones, os nomes das ruas, a temperatura ao longo dos dias, o tempo que se demorava pra ir de um lugar ao outro, o tom de azul do céu, o tom de verde do mar, quais espécies de animais habitavam cada lugar, cada estrela que nasceu desde que o universo começou. Tudo isso Joana queria contar.
Naquele dia, Joana parou de contar histórias e foi viver a vida.