quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Capítulo Vinte - Quem tem medo do Nicolau?

Dois sujeitos, desses não dos mais fortes, mas que à luz de um beco sujo são de dar medo em qualquer um. Menos no Nicolau.
Pra quem não sabe, o Nicolau é um suicida em potencial. Não que ele seja depressivo ou tenha feito uma apresentação dessas em cima de um prédio, mas ele não tinha medo nenhum de morrer e não se importava em se meter em situações perigosas.
Pois bem, estavam lá os dois sujeitos já mencionados no, também já mencionado, beco escuro quando deram de cara com o Nicolau:
-Ô, irmão, não tem um qualquer aí pra ajudar a gente?
O Nicolau, muito simpático como sempre, deu um tapinha nas costas do sujeito e lhe falou:
-Fica pra próxima, amigo - e saiu andando.
O sujeito o agarrou pelo braço e ameaçou:
-É melhor tu passar logo o que tem se não quer confusão...
-Ah, já entendi!
-Entendeu o quê?
-Nada, não... -e deu uma risada disfarçadamente, o que irritou muito o meliante.
-Esse cara de zoeira com nós, Zé!
-Calma, rapaz, pega logo o que tu quer e vâmo dar o fora antes que suje pra nós!
E o Nicolau calmo como um dia de verão numa cidade do interior:
-Eu não sei quanto à vocês, mas eu quero chegar logo em casa, então pega logo o que tem que pegar - e abriu os braços.
O outro desconfiou:
-Ih, qualé? Tá dando uma de fácil, agora? Aí tem coisa...
-Tá com medo do quê? Eu não tô armado, não, pode ver...
Realmente o Nicolau não tinha cara de quem carrega uma arma, sequer tinha cara de quem batia em alguém. Na verdade ele estranho demais pra ter cara de qualquer coisa.
O assaltante revistou os bolsos e a carteira do Nicolau:
-Mas tu não tem quase nada!
-É que tua mãe levou tudo o que eu tinha, ontem à noite! - e desatou a rir...

O enterro do Nicolau não foi triste, não. Todo mundo que conhecia o Nicolau sabia como ele era. Tudo bem que ninguém nunca imaginou que ele seria capaz de tal façanha, que, pra falar a verdade, eu nem sei como souberam, já que os dois mal-encarados fugiram logo após os disparos.
Mas o enterro do Nicolau não pode ser triste mesmo por um pequeno detalhe: o defunto exibia no rosto um sorriso insano de quem perde a vida, mas não perde a piada...