quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Capítulo Vinte e Nove - História Qualquer

Ela agarrou a mão dele e o levou para dançar. Ele dançava tão bem quanto um pato desajeitado. A irmã dela ficou de birra num canto. Ela só fazia isso pra provocar, sabia que a irmã gostava dele, mas não tinha coragem de tirá-lo pra dançar.
Além do mais a irmã mais velha sempre foi a mais bonita, mas tinha inveja da inteligência e talento da caçula. E a caçula tinha raiva da beleza-conquistadora-de-namorados da primogênita.
E fez pior: beijou ele, que ficou sem entender nada, mas tinha medo de perguntar.
E durante quase um mês namoraram. Passeavam todo final de semana, sempre com a irmã junto - exigência da mãe superprotetora. A pequena odiava. Ele (que começava a perceber os olhares diferentes da caçula em sua direção) se sentia constrangido e a mais velha achava graça naquele triângulo amoroso.
Depois de três semanas e meia, mais ou menos, a mãe se mudou com as filhas para outra cidade, distante uns trezentos quilômetros dali. Os dois namorados prometeram se corresponder, o que não cumpriram. A outra ponta do triângulo chorou.
...

Alguns anos mais tarde, por ocasião de uma fatalidade, os três se encontraram de novo. Os olhos dele brilharam. Os olhos dele ainda eram os mesmos olhos de menino. Elas, no entanto, estavam as duas mais experientes, com jeito de gente adulta.
-Olá.
-Oi.
-Podemos conversar a sós?
O coração da irmã já havia cicatrizado, não se importava mais com os dois. Tinha um namorado, até.
-Eu sabia que você voltaria um dia...
-Sim, mas é por pouco tempo.
-Como assim? - sorriu sem graça
-Olha, eu estou casada, sabe? Não posso mais ficar me relacionando assim com homens, principalmente antigos namorados.
-Mas eu esperei tanto tempo, nunca amei outra garota, achei que você também...
A irmã gritava que precisavam ir.
-Querido, entenda uma coisa: aquilo tudo foi só por causa do sexo.

Mas eles nunca fizeram sexo.