domingo, 11 de dezembro de 2005

Capítulo Quatro - Alívio

Ele ajeita a camisa suja, ou melhor, desajeita, pra parecer ainda mais necessitado. O "mercado" anda muito disputado e ele sabe que tem que atingir o coração das pessoas, fazer elas não raciocinarem muito. Ainda que isso às vezes possa ser um problema, se vierem à tona sentimentos de desprezo ou mesmo ódio.
As portas abrem e ele sente um frio na barriga, apesar de não ser a primeira vez. E entra. Espera o vagão entrar em movimento e começa o mesmo discurso, pedindo licença e sua atenção, por favor, algumas vezes, talvez pra tomar coragem. O que pouco adianta, praticamente só as crianças lhe dão atenção. Aquela história é nova pra elas, é diferente, não é como tantas outras tantas que vão ouvir até poderem ignorar um pedinte num trem do subúrbio.
Algumas poucas moedas rolam vacilantes até a mão do velho (ao menos na aparência) homem. As portas abrem novamente e ele sente alguém esbarrar, todo o dinheiro voa no chão, os pivetes apanham e saem correndo com inacreditável habilidade. Os passageiros sentem dó mais uma vez do homem, mas fingem não ver, é mais fácil assim. Tudo o que ele pode fazer agora é acompanhar a trajetória dos garotos e lamentar. Lamentar.
Ele ouve outro trem se aproximar, o que é um sinal de que ficou parado ali na plataforma um tempo considerável, os trens no subúrbio sempre se atrasam. Dá meia volta e admira a força e tamanho da máquina que se arrasta lentamente, como que cansada da vida. Ao menos alguma coisa tinham em comum. Ele sentiu vontade de abraçar o trem e desceu a plataforma.

Naquele final de tarde os trens se atrasaram mais do que o normal.

1 Reclamação:

Em 11 de dez. de 2005, 20:17:00, Anonymous Anônimo escreveu:

!!!!!!!!!!!!

 

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